segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Lô! Louco por Lô

     Lô! Louco por Lô*

          “Nihil melius muliere bona.”– (provérbio)
              N Ã O H Á N A D A M E L H O R
                  Q U E U M A B O A M U L H E R.
                                 Trad. Elvé



Ninfeta não tem consciência

de seu poder de ser ninfeta.

Virgílio, a elas sabia cantar loas.

Petrarca apaixonou-se por Laurinha, uma loura


ninfeta, correndo ao vento, uma flor em fuga

e, Dante por Beatriz, quando ela tinha nove anos,

e, também eu me dissolvi ao sol

no meu jardim de macios musgos,


quando vi minha Lô, minha pequena,

minha lânguida Lô.

Uma onda azul ergueu bem alto


meu coração, e o vácuo de minha alma

aspirou cada detalhe de sua beleza:

pele tenra e bronzeada, sem a menor jaça;


arabescos de penugem reluzente

em seu rosto, em seu braço e em seu antebraço;

sua maneira de andar, bamboleio de joelhos,

e um lascivo arrastar dos pés.


Quando ela se levantou, foi como se a flauta

de um faquir tivesse feito crescer

uma árvore, no meio do jardim.

Tremi e ocultei meus tremores.


Meu desejo por Lô me cega ao vê-la por perto.

Ela vem toda rosa e mel, e a pele

pontuada de rubis coagulados.


Ocorreu-me que eu estava louco,

pois, a miragem e a realidade

se fundiam no amor.

*Sonetos gêmeos baseados em “Lolita”, 
V. Nabokov, trad. Jório Dauster.
               
      Rio de Janeiro, 19 de setembro de 2013.
       Elvé Monteiro de Castro elve@globo.com