Lô! Louco por Lô*
“Nihil melius
muliere bona.”– (provérbio)
N Ã O H Á N
A D A M E L H O R
Q U E U M A B O A M U L H E R.
Trad. Elvé
Ninfeta não tem consciência
de seu poder de ser ninfeta.
Virgílio, a elas sabia cantar loas.
Petrarca apaixonou-se por Laurinha, uma loura
ninfeta, correndo ao vento, uma flor em fuga
e, Dante por Beatriz, quando ela tinha nove anos,
e, também eu me dissolvi ao sol
no meu jardim de macios musgos,
quando vi minha Lô, minha pequena,
minha lânguida Lô.
Uma onda azul ergueu bem alto
meu coração, e o vácuo de minha alma
aspirou cada detalhe de sua beleza:
pele tenra e bronzeada, sem a menor jaça;
arabescos de penugem reluzente
em seu rosto, em seu braço e em seu antebraço;
sua maneira de andar, bamboleio de joelhos,
e um lascivo arrastar dos pés.
Quando ela se levantou, foi como se a flauta
de um faquir tivesse feito crescer
uma árvore, no meio do jardim.
Tremi e ocultei meus tremores.
Meu desejo por Lô me cega ao vê-la por perto.
Ela vem toda rosa e mel, e a pele
pontuada de rubis coagulados.
Ocorreu-me que eu estava louco,
pois, a miragem e a realidade
se fundiam no amor.
*Sonetos gêmeos baseados em
“Lolita”,
V. Nabokov, trad. Jório Dauster.
V. Nabokov, trad. Jório Dauster.
Rio
de Janeiro, 19 de setembro de 2013.
Elvé
Monteiro de Castro elve@globo.com