quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Poemas no Céu

 

POEMAS NO CÉU 

Meus poemas não são meus, mas são mais meus

do que meus filhos, criados para ter vida própria

e voar livres pelo mundo. Mas meus poemas...

Se alguém copia ou rouba um verso meu,

amputa também um pedaço do meu eu).

Quando morrer levarei todos no caixão,

embora queira vê-los lidos e cantados,

ouvidos e falados, na boca do povo.

E se eu chegar às portas do céu, caso exista,

humílimo e contrito, eu os entrego a Deus.

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Uma Gota do Eu

                    

UMA GOTA DO EU

 

Poema      Surreal 

meu

r e l ó g i o

d e r r e t e  u

e  a  vida  escoa  as  horas

e os minutos pingam pela ponta

dos ponteiros as gotas do meu eu

cavalos bravios e éguas no cio galo

pam  no  fio  do  meu  pensamento

que voa à toa e destila no alam

bique  do  vento  os  ver

sos do poema que

também

morr

(eu)

·


Vai e Uiva

                      Vai e Uiva

 

                 uma haste mais túmida, misteriosa e lúbrica,

                 buscava no intercurso o concurso do seu corpo.

                                                              Raduan Nassar.

 

sua pele de pudim ou pomo de querubim

sua juventude um escândalo impublicável

vinte menos dezenove menos dezoito

menos dezessete sim contra quarenta

mais sessenta mais setenta e ...

primeiro foi na praia só um beijo

de presente uma bolsa não uma pasta

ou mala oh Freud uma bolsa que ela abriu pra mim

e mordi a polpa de sua cereja

que eu chupei até o caroço

e ela me espremeu no meio de dois troncos

e viu de-dia um céu azul cheio de estrelas

e depois inverteu e pegou o tronco

que não era o dela e de tão gulosa

quase o engoliu

e começou a dança ritual do fogo

tronco em brasa cereja na bolsa

e vai e vem e vai e vem e vai e uiva

jorra a chuva no vale o lago alagado

a nave desliza e flutua e o céu azul

de estrelas fica escuro

 

sem fôlego – eu durmo


Aforismos Transcendentes

               

                 Aforismos Transcendentes

                             La vida es sueño y los sueños sueños son.

                                                Pedro Calderón de La Barca.

 Todo dia, depois do café,

eu me invento com nova ficção.

Saio por aí, vendo a beleza

e as incoerências                                      do céu.

 

Afasto-me, renego e refugio-me

na distância do sonho e da invenção.

Sondo tudo e capturo só o nada:

não consigo saber onde fica o                         meu eu.

 

Viver é ter coragem de inventar a vida.

Minha mente faz verso e também cria

estranha matéria em minhas entranhas.

Sou puro, e juro que não minto.                      Só sinto.

 

Eu nunca vi o vero. Se o fato é vão,

então a foto é um fato – ou não?

Sentimento transparente é poema puro?

Eu só vejo a metade, mas a minha mente        tudo.

 

No escuro sente-se melhor o que é perfeito.

Se fico de olho bem fechado, fico rico.

Gasto todo o meu tempo a escolher,

com quais belezas quero                                vi ver.

 

Que zorra!

Sem poesia, esse mundo é

uma porra.

 

                                  


segunda-feira, 3 de agosto de 2020

I was, I'm, and I will be in love

I was, I'm, and I will be in love*

     Forgive me cause I love you so fast

      Drinking in your mouth the perfume of your smile.

                                   Vinicius de Moraes

                           Translation: Elvé.

you are the poetry flowing from my fingers,
and I drown in your ocean waters.
I want feel our bodies being only one,
I live in thee, and thou art my home.

I adore the sun being born in your eyes,
and we will fire all lights in heaven.
I love you with a flame that never burns out,
a fire that never turns down in me.

Let me be lost in your curves,
eye on eye, skin on skin, pounding,
to tell you that I don’t exist without you.

I want feel myself inside your body, no end,
and I, so void in me, and, so full of you.
You are the poem written within of me.

 

 *This poem was composed, almost totally, 

with texts selected from the book "intimismo"

of Izabella Furtado Rodrigues.


Amei, Amo e Amarei

amei, amo e amarei*

Eu te peço perdão por te amar de repente

...Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos.

                                            Vinicius de Moraes. 

tu és a poesia que escorre de meus dedos,

e me afogo nas águas de teu mar.

queria sentir nossos corpos serem um só,

e fiz morada em ti, e também me fiz teu lar.


adoro o nascer do sol em teus olhos:

acenderemos todas as luzes do céu.

amo-te como chama que não se apaga,

um fogo que queima dentro de mim.


deixa eu me perder nas tuas curvas,

olho no olho, pele na pele, pulsante,

para dizer-te que não existo mais sem ti.


quero me sentir dentro de ti, sem fim

e eu tão vazio de mim e tão cheio de ti.

tu és o poema escrito dentro de mim.


*poema composto, quase que totalmente, 

com versos extraídos do livro "intimismo" 

de Izabella Furtado Rodrigues.


Ghesas de Eros - Ninfeta

                                 

                           Ghesas de Eros – Ninfeta*

a vida em pingos de luz e as luzes pingos de sol

as luas que vêm nunca são as mesmas que vão

tão mocinha e já de seios intumecidos

ela sorri um si bemol

o rosto é uma lua cheia de cio

lindos olhos cor de mel cabelos ao vento

também ela é lua nua fêmea jovem e fogosa

para quem serão esses seios livres?

vítima indefesa da felicidade

o muito é nada quando se busca o impossível

mas os anjos existem e também as fadas

de nada vale o amor se a carne é o que se quer

a carne leve cada vez mais leve como se a cada

segundo ela fosse se tornando mais e mais menina

tê-la assim os lábios trêmulos de prazer

lábios feitos para o beijo

seguro nela com a febre das querências – urgente

e giro o girar das galáxias

 

* Poema composto a partir do livro Ghesas de Eros de Paulo Bauler.  


Ghesa de Eros - Ninfetinha

          Ghesas de Eros – Ninfetinha*

ela solta as peias da imaginação

em namoro adolescente como se

flutuassem no éter de uma viagem astral

boca a boca a língua em chamas

beijos lambidos libertam asas à alma

olhos acesos jeito feito para o beijo doce

suave liberdade em sua gruta úmida

até que a pega de jeito puxa provoca belisca desafia

e naufraga em mar revolto na busca da praia insular

a metade inferior é o que de melhor existe

ela grita e corcoveia exibe os lábios tão menina

e já a alma se faz uma besta fera

e lambe-lhe os lábios lutam uma luta surda e muda

e ela brilha feito uma santa barroca

em cada gesto um toque e em cada toque um truque

e se ajeita em bruços os glúteos fervendo em pecados

como se não fosse para tanto tão curta a vida

e se banha em águas de eterna juventude

no afago repetido embala uma garotinha sonolenta

ébria ainda do prazer recente entorpecida

esparge nela sementes generosas ela se acalma

mais outra vez quer ser mulher inteira

o encaixe perfeito...solitários nunca mais

* Poema composto a partir do livro Ghesas de Eros de Paulo Bauler.        


Ghesas de Eros - Ninfa

         Ghesas de Eros – Ninfa*

 

Assim, tão femininos esses eu-te-amos,

e ela se finge inocente donzela,

e ela fecha os olhos e me beija a boca

quente e úmida. As línguas

e os lábios enlouquecidos com gritos,

soterrados nas entranhas da terra,

e nas cavernas da alma. O mundo ferve,

o universo arde e ela me ama sem pejo,

e não era fome de comida,

e não tinha sede de bebida.

Tinha fome e sede de vida,

e ela sussurrava ais de ninfa apaixonada.

Vulcão em lava, havia cheiro e gosto de mim nela,

gosto e cheiro, infinito, em mim, dela.

Tudo é a idade, uma gata faminta,

lábios rubros e língua com gosto das manhãs.

Ela besunta meu corpo com óleo profano

e sua língua solta veneno

e espalha combustível à fogueira.

Somos fios nervosos da terra,

eletrons que tentam sair para os céus.

 

*Poema composto a partir do livro Ghesas de Eros de Paulo Bauler.


domingo, 2 de agosto de 2020

Amor de Madrugada

AMOR DE MADRUGADA

                              

Vim pro Rio ver o cais

e também mulher bonita

mas, às vezes, bate a baita

da saudade lá das bandas

 

dos confins de meus gerais.

Lá é d’onde meu amor

beija doce feito mel

e se dá de corpo inteiro,

 

sem pedir nada de mais.

E, à noitinha, a gente toca

uma moda de viola,

ela canta de entoada,

 

puxa dança bem faceira

com os olhos cheios d’água,

e a viola chora-chora

nosso amor de madrugada.


Liberdade Geral

Liberdade Geral

 

"…o grande oceano da verdade permanece todo desconhecido diante de mim."

 

Sir Isaac Newton.

 

Minha poesia vai montar em Pégaso alado

e voar rumo ao céu estrelado e pular sobre

pedras no caminho, sair de selva escura

e emergir de mares nunca navegados,

 

e não mais catar pingos de luz pelo chão.

Vou fincar minha casa nos esteios

de Órion: Belatrix, Rigel e Betelgoso.

Ao passar pela Lua, vou matar o Dragão.

 

Farei guerra à mediocridade, e nunca mais

meus versos, diversos, vão lamber sal da Terra.

Agora vou viver só de poesia pura,

 

dormir e sonhar sempre, nas camas do céu,

junto a muitos de meus grandes amores,

sem medo e sem nenhuma compostura.